9 de jul. de 2017

Ajudar por empatia



Começo esse texto com um grifo do autor que me inspirou para escrevê-lo:
“Em grego, idios quer dizer “o mesmo”.
Idiotices, de onde veio o nosso termo “idiota”,
É o sujeito que nada enxerga além dele mesmo,
Que julga tudo pela sua própria pequenez.”
Olavo de Carvalho

Muitos de nós, algum dia se deparou com algum idiota. E só de ler essa citação acima, lembrou de rostos e nomes, das pessoas que classifica como idiota. Tenha cuidado, você também pode estar sendo um idiota por classificar pessoas em níveis de idiotice.
Sem mais delongas, vamos tratar de discutir a idiotice pautada por esse texto, que corrobora com a opinião do autor citado no início do texto, sobre a pobreza na lógica de alguns revolucionários.

Analise o exemplo:
Um necessitado pedinte, te aborda e pede uns trocados. Você, procura algo nos bolsos e lhe dá alguma quantia em dinheiro, em seguida, percebe que o pedinte ruma até o bar mais próximo, e pede uma dose de bebida, pagando-a com as moedas que você o deu.

Qual a sua reação, diante desse fato?

Você ficaria decepcionado, e de imediato, esboçaria a expressão de abismado e descontente.
Por que?
Por que você não quis somente ajudar alguém, mas, educar-lhes para a cidadania. E é um pensamento errôneo, impregnado em nossas cabeças, um discurso velado de: não dê dinheiro, dê cidadania.
A sua vil tentativa de educar um pobre, além de não ser digna, tira a dignidade do mesmo, visto que uma vez que ele embolsa o dinheiro que ganhou, a ele pertence, e cabe a ele decidir onde e como gastar. Não é a lógica da coisa?
Em contrapartida, de forma contextualizada, se insira nesse cenário:
Você trabalha em uma empresa, e ao receber o seu salário do mês, o seu patrão, dita como você deve gastar o seu salário. No mínimo, você se sentiria humilhado.
É exatamente isso que acontece com alguém que você estende a mão ditando regras.
Como indaga Olavo de Carvalho:
“Vocês querem educar o pobre “para a cidadania” e começam por lhe negar o direito de gastar o próprio dinheiro como bem entenda? Querem educá-lo sem primeiro respeitá-lo como um cidadão livre que, atormentado pela miséria, tem o direito de encher a cara tanto quanto o faria um banqueiro falido? Querem educa-lo impingindo-lhe a mentira humilhante de que sua pobreza é uma espécie de menoridade, de inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe deram de esmola?” (CARVALHO, 2016. p.80)

As pessoas carecem de uma percepção da realidade. Uma reflexão sobre o que é a pobreza, que acaba sendo mais social do que econômica. Partindo da ideia de que o pobre pedinte não pode gastar o dinheiro que lhes deram, da forma que lhes convém, percebemos o quão incoerente e mesquinho, são os que têm esse pensamento e comportamento.

Essa visão distorcida sobre a pobreza, esse sentimento de poder, de comandar a ação do outro, por meramente, ter lhe cedido uma ajuda mínima.
Vejo pessoas se vangloriarem com imagens publicadas em redes sociais, publicando momentos onde “ajudou” um pedinte.
É comum que você veja no feed de notícias do facebook, imagens publicadas por pessoas que ajudaram alguém, e fizeram questão de registrar o momento, para passar a impressão de: “eu sou bonzinho e generoso”.
O que denuncia um pouco da sua necessidade de chamar atenção para si e conseguir algumas curtidas e comentários vindos de terceiros. E digo mais, quem ajuda alguém por empatia, não necessita de holofotes e publicações com texto de solidariedade e frases de efeito que destaquem o seu feito.
É o que eu chamo de marketing pessoal, auto promoção, ou, inferioridade inconsciente.
Sentir-se inferior, e logo, ter a necessidade de estar com pessoas vistas como inferiores pelo seu status social. Se auto promover em publicações desta natureza, só mostra o quão idiota é a conduta desse que a fez.

Para complementar, embasada pelo artigo de Olavo de Carvalho, faço uma sutil colocação:
Quer ajudar mesmo? Ajude longe das câmeras. Ajude sem necessidade de elogios. Ajude por empatia, por sentir-se no dever de ajudar, por estar em condições mais favoráveis e prover para o outro que não está em condições favoráveis.
Não ajude somente com dinheiro. Seja educado, trate bem, seja amoroso e educado, desde o doutor ao morador de rua.
Seja educado, dê-lhes um bom dia, sorria, estenda a mão, converse. Tire vinte minutos de cada dia para levar uma mensagem de prosperidade para qualquer pessoa que se direcione à você solicitando ajuda. Faça isso e verá esse sujeito erguer-se dessa condição miserável e endireitar a espinha.
Concordando com Olavo, a barreira que impede o acesso de pobres e mendicantes brasileiros a uma vida melhor é menos econômica que social.
No mais, o que falta, é a compreensão de que a pobreza não é um estigma, não é uma desonra, é uma consequência que pode acometer qualquer pessoa. E de que pobreza não é somente falta de dinheiro.
Das causas da pobreza, a principal não está nos pobres, mas, na pobreza de educação dos outros.

Laila Mensá
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual da Bahia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, Olavo de, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.  21ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.

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